Tia preta
Fui visitá-la ontem. Estava menos inchada, o que é bom, mas muito mais magra, o que é mau. A culpa é dos medicamentos que está a tomar e que lhe tiram o apetite e a fazem vomitar muito. Impressionou-me o preço daquela caixa de comprimidos: 3300 euros. Isso mesmo: três mil e trezentos euros e qualquer coisa. Ela não paga, porque são comparticipados, mas nunca tinha visto um medicamento com um preço daqueles.
Achei a tia um pouco triste, muito embrulhadinha na sua manta. Mas a combater a tristeza. Ainda nos rimos, quando ela disse:
- Vomito sempre, sempre, sempre a seguir a tomar os comprimidos. Todos os dias. Às vezes até fico à espera de vomitar, para poder sair de casa.
E mandou uma gargalhada.
Enquanto lá estive, apareceram dois dos seus meninos. E em cima da bancada da cozinha estavam uns 10 ou mais hambúrgueres, para o jantar da rapaziada.
- São eles que não me deixam esmorecer. O calor deles é tão grande que eu sinto-me logo melhor.
O tumor que tem no cérebro não é operável porque se move, como um carro da fórmula 1. E eu perguntei: então, tia, estes comprimidos acabam com ele?
- Não. A ideia é que o façam mirrar, murchar. Mas ele vai ficar sempre lá, adormecido. Pode ficar uns meses, anos, a dormir. Mas depois um dia acorda. E lá começa tudo outra vez.
Que injusta, a vida. Saí de lá com um nó na garganta. A tia continua a precisar de ajuda. O NIB está aí ao lado. Mas uma visita, com uma comidinha para os seus meninos, é sempre bem-vinda. Ela precisa de se sentir acarinhada. E merece.
Achei a tia um pouco triste, muito embrulhadinha na sua manta. Mas a combater a tristeza. Ainda nos rimos, quando ela disse:
- Vomito sempre, sempre, sempre a seguir a tomar os comprimidos. Todos os dias. Às vezes até fico à espera de vomitar, para poder sair de casa.
E mandou uma gargalhada.
Enquanto lá estive, apareceram dois dos seus meninos. E em cima da bancada da cozinha estavam uns 10 ou mais hambúrgueres, para o jantar da rapaziada.
- São eles que não me deixam esmorecer. O calor deles é tão grande que eu sinto-me logo melhor.
O tumor que tem no cérebro não é operável porque se move, como um carro da fórmula 1. E eu perguntei: então, tia, estes comprimidos acabam com ele?
- Não. A ideia é que o façam mirrar, murchar. Mas ele vai ficar sempre lá, adormecido. Pode ficar uns meses, anos, a dormir. Mas depois um dia acorda. E lá começa tudo outra vez.
Que injusta, a vida. Saí de lá com um nó na garganta. A tia continua a precisar de ajuda. O NIB está aí ao lado. Mas uma visita, com uma comidinha para os seus meninos, é sempre bem-vinda. Ela precisa de se sentir acarinhada. E merece.