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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

13

Não, 13 não é número de azar. É número de sorte. De uma sorte do caraças que eu tive, quando ele reparou em mim, em 1998, nas escadas centenárias do Diário de Notícias. Bom, na verdade, eu era mesmo gira nessa altura, mas ainda assim foi uma sorte dos diabos que ele não se tivesse limitado a convidar-me para um copo, foi uma sorte do catano eu estar livre e desimpedida, foi uma espécie de conjugação astral. Dois anos depois - ou seja, há 13 anos - eu disse que queria ficar com ele para sempre, ainda que suspeitasse que não seria mesmo para sempre-sempre (confesso que achava demasiado tempo), eternamente, mas que seria eterno enquanto durasse, como dizia o Vinícius. O que eu não sabia é que isto do amor é uma construção espantosa, que vai crescendo e solidifcando, uma espécie de cimento, tijolo e aço, e quando a gente dá por ela é mesmo para sempre-sempre, no sentido real da eternidade toda, ou pelo menos até desaparecerem da crosta terrestre quaisquer seres pensantes que se lembrem de um amor assim.
A vida a dois não é cor-de-rosa, não pensem, não se enganem, não se iludam. Não acredito em uniões sem um grito de quando em vez, uma discórida, um desencontro, um hoje-não-posso-ver-este-gajo-à-frente-nem-que-se-cubra-de-oiro-filho-da-mãe. Há dias chatos, dias em que marra um e marra o outro, dias em que tem de se pagar contas, tem de se comprar detergentes, bifes, cebolas, há dias em que chove e não se vai a parte alguma, há dias em que uma mulher está com o período, chateada que nem um perú e pronta a dar cabo da cabeça a um gajo.
Isto para dizer que não foram 13 anos perfeitos, daquela perfeição imaculada, sem pequenas coisas, birras, amuos e coisas assim. Não. Cá por casa vive-se uma vida, não um sonho. Mas foram 13 anos maravilhosos, a sério, mais maravilhosos do que alguma vez poderia imaginar. Porque cada ano que passa é melhor que o anterior, que é coisa que me surpreende muito, eu que achava que no princípio das relações é que está todo o sal e toda a pimenta, mais as ervas de provence e um cheirinho de gengibre. Julgava eu - tonta, parva de todo - que com o tempo as relações vão perdendo o perfume, vão perdendo o sabor, vão deixando de ter graça. Qual quê! Nesta relação, os condimentos têm vindo a intensificar-se, a apurar-se, sabem hoje muito melhor que há 13 anos, ah caraças, se sabem!
Hoje faz 13 anos que começámos uma vida juntos e hoje tenho a certeza que foi a melhor decisão da minha vida. Que ele é a tampa da minha panela e que não haveria para aqui outra tampa que cá coubesse e, sobretudo, que cá conseguisse ficar, tão bem assente, durante todo este tempo. Hoje sei que 13 anos é pouco, muito pouco tempo para o tempo todo que quero viver com o homem da minha vida. Por isso, 13 anos não é ano de azar, claro que não, nada disso. É ano de celebrar. E prosseguir. Que ainda temos um longo (espero que bem longo) caminho.
Fotografia de Artur Lourenço

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