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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

As cartas

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Quando o António - que está a viver no Reino Unido - me pediu a morada, para me escrever uma carta, fiquei deleitada. Há tanto tempo que não troco cartas com alguém que - pensei - esta seria a oportunidade perfeita para regressar a uma actividade que é, na sua essência, substancialmente diferente de trocar emails com alguém. Ainda para mais sendo o interlocutor o António, filho do Pedro, cuidei que pudesse ser este um momento mesmo bonito de troca de experiências, ideias, sentimentos. Quase uma continuidade da relação que tinha com o pai, agora através do filho. Não a mesma coisa, porém outra coisa, filha da primeira. Uma sucessão natural. A vida a acontecer.

A carta dele chegou e parecia Natal. Fui para um cantinho, sozinha, abri a carta como quem abre um presente. Li, reli, sorri. Que bem escreve, pensei. Tenho de estar à altura, concluí. E, passado um tempo, sentei-me a escrever de volta. A missiva dele tinha 3 páginas. A minha teria umas 4 ou 5. Não foi para ganhar, numa qualquer tola competição de palavras a que me tivesse proposto, mas foi porque me estendi como há muito não me estendia (já que aqui no blogue, e mais ainda no Instagram, há o imperativo de uma certa brevidade). Gostei muito do exercício. Enviei a carta para a morada que ele me deu. E fiquei à espera da volta do correio.

Os meses passaram mas eu não queria perguntar nada. Afinal, isso iria estragar a magia da troca de correspondência. Antes, quando não havia outro modo de comunicar, também não havia como saber se a nossa carta tinha chegado ou se se teria perdido. Não quis, além do mais, cobrar uma resposta. Não havia entre nós nenhum compromisso. Era apenas uma ideia que seguiria o seu rumo caso existisse oportunidade e vontade. Mas um dia ganhei coragem e cortei o silêncio. "Não estou a cobrar resposta mas a verdade é que esta coisa das cartas é inquietante porque não chegamos a saber se chegaram ao destino."

Foi então que a magia da troca de correspondência caiu por terra. O António não tinha recebido a minha carta. Como assim? Ele desvalorizou: "As cartas são assim. Também falham, como as pessoas." Não me conformei. Como assim, falham? E as minhas palavras para ele, onde andam? 

Fico sem saber se lhe escreva de novo. Sacanas das cartas, com mania de uma vida própria. Pelo sim pelo não, se lhe escrever vou fazê-lo primeiro no computador. Sempre fico com um rascunho guardado para, em caso de nova falha, lhe enviar o original por email. Ainda diabolizam as novas tecnologias. Bah.

2 comentários

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    Anónimo 04.04.2019

    E quem a criou foi um português! Não é maravilhoso? (Uma entrevista ao criador do Postrcrossing, pela Sónia, era interessante.)
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