As coisas de que não precisamos
Há coisas de que uma família de gente trabalhadeira com três crianças não precisa. Por exemplo: receber um jogo de presente e o jogo bloquear e, por isso, termos de ir à loja trocá-lo. Ou irmos à farmácia comprar nova remessa de Singulair e a farmacêutica perguntar se não queremos antes o genérico, que é a mesmíssima coisa e mais barato. A gente diz que sim, por que não, e depois chega a casa e a filha, que mastigava o Singulair com alegria, como se fosse um rebuçado, facilitando a tarefa de lhe dar o remédio todas as noites, cospe o novo remédio com ar de nojo e chora porque afinal o genérico até pode ser igual nos efeitos mas não é igual no sabor, ora com essa é que a senhora farmacêutica não contava, nem nós. Por isso, agora é preciso voltar à farmácia para tentar trocar a segunda embalagem, uma vez que a primeira já foi encetada e, por isso, não dá para trocar e vai haver tourada todas as noites para enfiar o comprimido na boca da pequena gourmet dos comprimidos. Há coisas de que uma família de gente trabalhadeira com três crianças não precisa. E uma delas é ir em contra-relógio buscar o equipamento de futebol do Manel, antes que a secretaria feche, e depois chegar a casa, já depois das 20h, e constatar que faltam as meias. Porque é que faltam as meias? Porquê? Custava muito estar lá o equipamento completo? Custava muito que o jogo estivesse em condições? Custava muito que o primo do Singulair tivesse o mesmo sabor do Singulair?
Há coisas de que uma família de gente trabalhadeira com três crianças não precisa. Sobretudo se acontecerem todas no mesmo dia. E se a família não dormir há duas noites consecutivas.
E agora vou para a cama. A ver se hoje não há concerto. Boa noite, pessoas.
Há coisas de que uma família de gente trabalhadeira com três crianças não precisa. Sobretudo se acontecerem todas no mesmo dia. E se a família não dormir há duas noites consecutivas.
E agora vou para a cama. A ver se hoje não há concerto. Boa noite, pessoas.