Cá por casa levamos os aniversários muito a sério
Há quase 20 anos que a nossa vida é isto: ele faz uma surpresa, eu tento superar, ele a seguir procura ser ainda mais criativo, eu depois volto a fazer das tripas coração para o deixar de cara à banda. Calhou juntar-me com alguém que ama surpresas tanto ou mais do que eu, de maneira que passamos boa parte do tempo a magicar a melhor forma de surpreender o outro.
Desta vez, comecei a preparar a surpresa dele há mais de um mês. Quando voltámos de Nova Iorque, o homem vinha doido com o Fantasma da Ópera. Já vimos alguns musicais mas aquele mexeu mesmo connosco e era ver o Ricardo a pôr as músicas a tocar o tempo todo, para tormento dos miúdos (menos do Mateus, que também se viciou e passa o tempo a cantar "Masqueraaaaaade..."), que reviram os olhos e imploram por outros temas no rádio.
Quando comecei a pensar no presente que lhe queria dar ocorreu-me: e se lhe oferecesse uma ida ao Fantasma da Ópera mas em Londres? Aproveitávamos e íamos fazer um fim-de-semana a dois, que sabe sempre bem, e de repente tudo começou a parecer-me muito apetecível. E pronto. Marquei o espectáculo, marquei o hotel, tratei de fazer as reservas para os jantares. Partiríamos no próprio dia do aniversário, mas só mais tarde, para que ele pudesse estar com os pais e com os filhos.
Era agora preciso pensar em como iria passar o dia (sexta-feira). E se fosse uma massagem, num sítio que adoramos, e um almoço sobre o mar? Se depressa pensei, mais depressa decidi que era por aí. Fiz as malas em segredo, não lhe dei um único indício.
Assim, sexta-feira, depois de levarmos os miúdos à escola, começámos por ir ter com os pais dele. Passámos lá um bocado e, a seguir... Cascais. Como chegámos cedo, ainda fomos à Casa da Guia tomar um café.
Curiosamente, quando estávamos ali sentadinhos na esplanada encontrei os meus primeiros chefes. Primeiros ainda que o meu querido Pedro Rolo Duarte. A Raquel Silva e o Paulo Parracho foram meus chefes na Rádio Clube de Sintra, onde trabalhei pouco tempo mas da qual tenho maravilhosas recordações. Vai daqui um grande beijo para os dois.
Dali pedi-lhe para seguir até à Rua Frei Nicolau de Oliveira (há que manter o suspense até ao final) e eis que chegámos ao Grand Real Villa Itália, um dos nossos hotéis preferidos (e que terá sempre o simbolismo de nos ter recebido na noite que antecedeu a nossa primeira maratona - que começou em Cascais e acabou em Lisboa). Tinha marcado um circuito termal de Thalassoterapia e uma massagem a dois, seguidos de um almoço no divinal restaurante do hotel. Haverá melhor maneira de se começar o dia de aniversário?
Massagem incrível pelas mãos de Mariline e Rafaela Santos
Durante o almoço fizemos amizade com uma gaivota, que o Ricardo prontamente baptizou de Fernão.
O Fernão veio comer à mão e até lhe deixei um bocadinho de pão na minha cabeça, que ele veio buscar. Descaradão do Fernão.
Quero agradecer muito a gentileza da equipa do restaurante do Grand Real Villa Itália que, sabendo quando reservei que se tratava do aniversário do homem, providenciou um bolo com vela e tudo.
Confesso que me deu um gozo bestial estar neste bem-bom a pensar "Nem fazes ideia de que daqui a umas horas vais estar a entrar num avião". Depois do almoço, fomos para o carro e disse o destino: casa. Ao mesmo tempo, fui trocando mensagens com o Manel. Se já estavam todos, se já tinham as velas no bolo, se já estavam na cozinha escondidos. O Mateus, que acordou doente, vomitou minutos antes de entrarmos em casa, pelo que tive de empatar um bocado a entrada (e estava com o coração apertado por saber que íamos embora com ele doente), mas depois lá entrámos, os miúdos cantaram os parabéns ao pai e enquanto ele recebia mimos e presentes, fui buscar as malas para a entrada de casa sem ele ver.
Cerca de uma hora depois, chamei um Uber. Quando o Uber chegou, disse-lhe: "Temos de sair. Tens a carteira?" Quando chegou à porta e viu as malas ficou azul. Quando viu no GPS do carro o destino - aeroporto - ia tendo um colapso.
Foi só quando chegámos à porta de embarque que soube que íamos para Londres. Estava doido (não íamos os dois sozinhos a Londres há 20 anos, apesar de ja termos ido com os miúdos) e ainda nem sonhava do projecto principal - assistir ao Fantasma da Ópera, no dia seguinte. Quando se viu à porta do Her Majesty's Theatre ia falecendo.
O espectáculo foi incrível, ainda melhor que o de Nova Iorque. Os actores transmitiam muito mais emoção, o fantasma chorava (e eu com ele), eram todos muito mais actores do que os da Broadway. Certo é que chorei baba e ranho na parte da escadaria, em que todos cantam ao mesmo tempo (e são - creio - 40 actores/cantores) o "Masquerade". Aquilo comove-me até à medula, bem como o dueto entre a Christine e o Raoul. Sou uma sentimentalona, eu sei. O aniversariante adorou. E até era capaz de ver ali uma garganta a engolir em seco, para evitar uma vergonha maior, mas pode ser dos meus olhos... :)
O fim-de-semana em Londres foi mesmo bom. Como já lá fomos algumas vezes e como era apenas um fim-de-semana não tivemos aquela tendência para andar a mata-cavalos a ver tudo.
Acordámos às 9h, tomámos o nosso pequeno-almoço no hotel com calma (um hotel querido, querido, em Kensington - Hotel Indigo, da cadeia IHG, pequenino e cosy, com os empregados a vestirem as suas roupas e não com farda ou fato formal, muito familiar e com uma excelente relação qualidade/preço). No sábado andámos ali pelo centro e jantámos no super fancy restaurante Yauatcha. No domingo fizemos o nosso passeio de eleição em Londres - de Little Venice até Camden, com passeio de horas em Camden, a descobrir lojas e negócios e cafés, e depois fomos tomar um copo a um dos bares da torre mais alta de Londres (e da Europa): The Shard. À noite, jantar no lindíssimo restaurante Bob Bob Ricard, que tem um botão que devia estar instalado cá em casa. Diz "Press for Champagne". Aaaaaaaaah, que botão, senhores, que botão!
A sala de pequeno-almoço do nosso hotel 😍
Yauatcha, Soho
Bob Bob Ricard
Claro que, no final disto tudo, ele só suspirava "E agora? O que é que eu faço para os teus anos em Novembro? Vou começar já a planear! Quando deres por isso estás em Marte!" 😂😂😂
Espero não ir a Marte, que não tenho vontade. Na verdade, e atendendo a tudo o que se tem passado nos últimos tempos, só quero mesmo é lá chegar. Mas posso garantir que organizar estas surpresas é algo que me faz mesmo feliz, sobretudo para aqueles que amo e que merecem todo o meu empenho. Vivo para estes momentos, a dois ou com a família toda. Tanto que já estou de nariz na próxima partida. Não há nada que me dê tanto prazer como viajar. As viagens são o que de melhor podemos ter porque nunca ninguém pode levá-las de nós. São nossas, fazem parte da nossa vida, entranham-se em quem somos. Nunca regressamos de uma viagem - seja curta, seja longa - as mesmas pessoas que partiram. Chegamos muito maiores, porque trazemos connosco memórias que não nos largam, e ainda bem.
Muito obrigada à minha mãe, que ficou o fim-de-semana com 4 miúdos, um deles doente (a vomitar, com febre e ranho), e um cão. E sempre de cara alegre, a achar estas surpresas o máximo. É a maior!