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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Um pai é todas as profissões do mundo

Ontem o meu pai e a boadrasta vieram cá lanchar, numa espécie de comemoração do Dia do Pai antecipada.

Entretanto o Manel teve de sair, que tinha um jogo de futebol marcado com os amigos, e lá foi ele à sua vida.

De repente, liga. Tinha saído do autocarro e deixado a carteira lá dentro. Meio à toa, sem saber muito bem o que fazer. 

O Ricardo saiu de casa, apanhou-o na paragem, fotografou o percurso do autocarro que estava afixado, e foi fazendo o percurso do autocarro, tentando apanhá-lo. Calculou os tempos, coisa e tal, e às tantas topa-o. Podia ser o mesmo ou não mas, pelos minutos que já tinham passado, e pelo facto de já estar a voltar no sentido contrário, achou que era. Fez sinais de luzes, o atravessou-se à frente, explicou o sucedido. O motorista foi impecável, sorriu, disse "talvez esteja com sorte porque isto está absolutamente sem ninguém". O Manel entrou, foi ao lugar onde tinha estado sentado, e... lá estava a carteira, intacta. Com 40 euros, cartão de cidadão, cartão do Sporting (atenção, é coisa para ser mais importante do que tudo o resto).

 

Isto de andar a perseguir autocarros não define o Ricardo como pai. De resto, já o fez de outras vezes, como quando a carrinha da escola da Infantil já tinha partido para a praia e ele avançou numa perseguição chalupa para conseguir meter lá o puto (um deles, dois, talvez já tenha acontecido mesmo com todos). Também não o definem as noites infindas em que se levantou (e levanta) duas, três, dez vezes, porque há pesadelos, porque um quer leite, porque outro tem medo, porque há febre, vomitado, xixi. Nem o definem as gargalhadas que os faz dar quando se desmancha no meio de um ralhete. Ou os constantes abraços. Os pedidos para que nunca se esqueçam do quanto os ama. As surpresas que gosta de lhes fazer. Os jantares especiais. As conversas. Os conselhos. As leituras. As canções (com as quais nos tortura a todos). As cedências, mesmo naqueles pontos em que jurava que jamais cederia.

Um pai não é feito só de uma qualidade porque um pai não tem só uma faceta. Um pai reune, por exemplo, todas as profissões do mundo: um pai é médico, é escritor, poeta, matemático, engenheiro, professor. Um pai é construtor, é aquitecto, contabilista, tradutor, cozinheiro. Barbeiro, fotógrafo, enfermeiro, carpinteiro, motorista. Tudo. Até super-herói. Um pai é, de resto, o sinónimo perfeito do tão-em-voga multitasking. Um pai é forte, é grande, é colo, é sabedoria (ainda que possa ser chato - e durante muitos anos é), é amor, é zanga, é cara feia, é olhos fechados durante um abraço. Um pai é mais que uma pessoa. Um pai é um lugar. Um lugar onde é suposto chegar-se e saber que se está seguro. Um porto. Terra firme. 

O Ricardo, pai dos meus filhos, é isto tudo. A sorte que eles tiveram. A sorte que eu tive.

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Foto: Raquel Brinca, HUG

(é o Mati, mas podia ser qualquer um deles) 

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