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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Eu versus eu ou a bipolaridade de uma anafada

Ora então vamos lá ver se me compreendem:
Sim, eu já fiz montes de dietas. Tantas, mas tantas que nem têm conta. Lembro-me de ser miudinha, de andar na natação de competição e de desmaiar no autocarro porque ainda só tinha comido uma maçã. Fiz a dieta da sopa, a dieta da cebola, a dieta do sumo de limão com beringela, a dieta da seiva. A dieta dos 31 dias. A dieta dos 2 dias. Fui ao Póvoas (fiquei tão magrinha, tão magrinha, mas tão acelerada como um esquilo que tivesse cheirado coca), fui ao Tallon. Fiz a dieta LEV. Fui ao Choy. Já estive inscrita em tantos ginásios que pareço uma benfeitora, a tentar salvá-los a todos: o Craque, o Super Craque, o Mega Craque, o Clube VII, o Holmes Place, o Solinca, o Club House, e outros que seguramente agora não me estou a recordar. Já fiz ginástica, já andei de bicicleta, já fiz aulas de grupo. Andei no Bootcamp. E meti-me no running.

Nunca fui obesa. Nem gorda-gorda, assim propriamente, daquelas pessoas que as outras descrevem como "não estás a ver? A Sónia, aquela… a gorda…" Acho que não. Acho que nunca fui "a gorda". Mas sempre fui anafadinha. Cheiinha. Mesmo em criança, digamos que havia uma propensão para um pneuzinho sempre ali a querer insuflar. E eu nunca gostei dele. E sempre o combati, com as armas que fui tendo à mão. Umas mais agressivas (e idiotas), outras mais soft (e lentaaaaaaszzzzzzz).

Posto isto… dizer que, desde que tenho o blogue, vocês aí desse lado já foram comendo com alguns destes números. E poderão dizer que há, na minha vida, uma linha que separa a cheiinha que gosta de comer e beber e que prefere (de longe) alapar o traseiro no sofá a movimentá-lo, da outra, que se mete a comer verdes, que corre 10 km três vezes por semana e que até consegue perder uns quilos (nunca por muito tempo). E têm toda razão. A minha vida tem sido, na verdade, isso mesmo. Um frenético oscilar entre períodos de contenção alimentar (ou mesmo fominha negra) e desregramento total, entre actividade física (por vezes intensa) e ociosidade (por vezes também intensa).

Porquê? Meus filhos, simplesmente porque a genética não é a minha melhor amiga e não me deixa comer e beber à vontadinha mantendo uma cintura de vespa. Não. A minha cintura tende a ser de um enxame inteiro mesmo quando nem abuso assim tanto. Acontece que eu gosto mesmo de abusar. E nem sequer é dos doces. É mesmo de uma boa açorda, uma feijoada, um fondue com todos os seus molhos, uma picanha com feijão e farofa. E não é beliscar um pouquinho, não é dar uma garfada e dizer que estou satisfeita, como é suposto que façam as senhoras dignas desse nome. Lastimo imensíssimo, mas eu aprecio comer e repetir e ainda ficar de olho no que sobrou (grande besta). E gosto de beber. Vinho tinto, branco, verde ou rosé (com grande destaque para o tinto e, no verão, para o rosé). Caipinhas, caipiroscas, mojitos, sangrias, champanhes, cerveja (não sou muito esquisita, só não me dêem whisky).

E perguntam vocês (no caso de ainda aí estarem, que a prosa já vai longa): em que fase te encontras tu, neste momento? Em dieta? Ou a alarvar? E em que tipo de cena maluca andas metida agora? Já rastejaste na lama com os fuzileiros (gostei tanto…), já espetaste agulhas no bucho… e agora? Qual é a tua cena agora?
Eu respondo, que não quero que vos falte nada.
Nos últimos meses do ano passado, foi um fartar vilanagem. Primeiro foi o Verão e a desculpa de que era o Verão, depois foi o Outono e a desculpa de que era o Outono, depois o Natal e a desculpa de que era o Natal. Conclusão? Uma miséria. Só não fiquei à beira da banda gástrica porque a partir de Setembro comecei a correr. Mas não emagreci, apesar de ter começado a correr bastante (até uma meia-maratona fiz), simplesmente porque continuei a comer sem cuidados.

Até que a Catarina fez um post qualquer em que mostrava o seu admirável mundo novo. E o seu admirável mundo novo era ela, ainda mais gira do que antes, magra como nunca, e com um sorriso de felicidade incrível. E eu, como qualquer anafado, quis saber o segredo. Sim, porque nós, os anafados, achamos sempre que quem emagrece tem O segredo. É como se quem emagrece tivesse descoberto a fórmula mágica que vai, finalmente, mudar a nossa vida, rapidamente e sem esforço.
A Catarina não tinha a poção. Mas tinha a força de vontade e… o Pedro. Tentei convencer-me de que também teria a força de vontade (já a tive tantas vezes) e pedi o contacto do Pedro.

Passei, então, a ter um PT.
O Pedro vem a minha casa uma vez por semana (não consigo pagar mais do que isso) e põe-me a mexer. Da primeira vez, avaliou-me. Pesou o animal, mediu as pregas (juro) com uma espécie de tenaz com centímetros. Foi triste. Ter um homem a pegar-nos nas banhas das ilíacas, da barriga e dos braços, a medi-las e a apontá-las num caderninho é um momento pouco glamoroso. Mas útil, garanto.
A minha mãe olhou para mim com aquele ar de enfado, de quem diz "pffff, mais uma invenção". O Ricardo é capaz de ter feito o mesmo, mas disfarça muito bem e faz sempre um ar interessado e convencido da minha determinação (o seu instinto de sobrevivência é feroz).

Passou um mês desde que "tenho o Pedro da Catarina". Ela tinha razão: ele é fantástico. Treino em casa ou saímos para a rua. Traz cordas, traz elásticos, traz o TRX, traz bolas de 3 kg, traz uma vara (da última vez pensei que a trazia para me dar com ela). É muito profissional e super simpático e muito querido. A vantagem? Bom, há muitas. A primeira de todas é a óbvia: ter um PT que vai a casa impede-nos de dizer: "Ah, hoje não me apetece ir…". Não temos de ir a parte nenhuma - ele aparece, toca à campainha, é só abrir. Claro que posso sempre não abrir, fazer-me de morta, assobiar para o ar e deixar o Pedro na rua… mas ainda nunca me apeteceu fazê-lo (e mesmo que apetecesse, jamais teria coragem). A segunda grande vantagem é que estou em casa. Na minha casa, no meu espaço. Quando ele se vai embora, vou logo para a banheira, daí a nada já estou a trabalhar, estou no meu ninho. A terceira vantagem é que ele está ali só para mim. Não há batota. Não posso parar um exercício a meio por ele estar distraído a olhar para outra coleguinha de esforço. Não há ali mais ninguém. Sou eu… e ele. Ou seja: sem fuga possível. Custa, mas é mais eficaz.

Passou um mês desde que voltei à alimentação cuidada. Não tenho passado fome - nem um pouco. Já fiz uma asneira (no aniversário do Martim, em que comi hidratos de carbono e bebi vinho), mas de resto tenho sido uma linda menina, e sem esforço.
O Pedro vem uma vez por semana mas marca-me mais dois exercícios para essa semana, que tenho de cumprir.
Ontem, veio pesar-me e medir-me (de novo a humilhante tenaz, credo). Tinha perdido pouco peso (1,300 kg - QUE ÓDIO!) mas 5% da massa gorda foi-se. 1,5 cm no perímetro abdominal, e 1 cm no perímetro da sacro-ilíaca. É muito irritante perder pouco peso mas ele tranquiliza-me e diz que pode acontecer e que o importante é vermos a massa gorda a ir à sua vida. E perder em centímetros tem de contar alguma coisa, até porque não andamos com o peso escrito na testa, mas as calças folgadas já fazem a sua diferença visual.

Não sei se vou ficar como a Catarina, até porque reconheço ali uma determinação que não creio encontrar em mim. Não sou assim tão louca por bagas e por sementes e não vibro assim tanto com as corridas como ela passou a vibrar. Mesmo quando corro 3 vezes por semana, o bichinho da corrida nunca se me agarrou às pernas como as lêndeas se agarram aos cabelos. Nah. Gosto de correr, sim, quando começo reconheço ali uma certa adrenalina e felicidade, mas é sempre quando termino e nunca quando começo. Saio de casa sempre zangada e a rosnar, e só sorrio quando já estou a voltar para casa. Já não é mau. Mas não é a mesma coisa que quem sai aos pulinhos, com a simples antevisão da corrida.
Por outro lado, tenho uma vida social completamente tresloucada. Não há semana nenhuma em que não jante com amigos e os meus amigos (TODOS) são gente da boa mesa, do bom vinho, e eu não tenho assim tanta vocação para me privar daquilo de que gosto muito, nem estou a prever que deixe de amar um bom bife com batatas fritas.

Isto para dizer o seguinte: estou empenhada - que estou. Estou a ver resultados - que estou. Sinto-me melhor - que sinto. Estou mais saudável - e de que maneira. Mas não quero levantar muitas ondas com isto e dizer que agora é que é, que agora é que vi a luz, que vou ficar a Gisele Bundchen, aleluia!
Vamos com calma. Um anafado é uma pessoa com altos e baixos na sua anafadice. Mais ou menos como um toxicodependente. Que deixa o vício, que recai, que volta a tentar. Há quem deixe uma vez para sempre. Há quem demore mais a livrar-se do mal. E o pior é que, no caso do toxicodependente, a droga não está assim à mão de semear. Já o gordo… está rodeado de comida por todos os lados, tipo náufrago.

Vamos ver como corre.
Quero agradecer à Catarina, que foi uma querida e é uma inspiração (mesmo que não me renda em absoluto ao leite de espelta e às chias e às gojis e à corrida desenfreada faça chuva ou faça sol).
E ao Pedro, que julgo poder vir a acompanhar-me por muitos e bons anos (porque mesmo que fique magrinha, terei sempre que contrariar a inércia e a nojenta da gravidade).

(ainda aí estão? Eh valentes!)

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