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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Não é uma guerra, é apenas um debate de ideias

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Houve vários comentários ao post anterior, da Diana e da sua gravidez.

Dois deles tocaram-me particularmente.

O primeiro foi este: "Acho que ter filhos desta forma artificial, e solitária, é um ato de egoísmo. É sempre para satisfazer um desejo (ou capricho) pessoal e por isso acho que a procriação medicamente assistida estava muito bem reservada apenas aos casais heterossexuais. Quando o Homem quer assumir o lugar do criador/criação ( e não estou a falar de religiões ou crenças em deus/es) o mundo não caminha para um lugar muito bom. 
É apenas a minha opinião, não vale a pena começar uma guerra por ser diferente da de toda a gente."

Ora, este comentário remete-me para algumas questões, nomeadamente: o que é ter filhos, afinal? Não será sempre, de algum modo, um acto de egoísmo? Mesmo quando nascem de forma "natural", da união entre um homem e uma mulher? Afinal, temo-los porquê? Para perpetuar a espécie humana? Não me parece. Para contribuirem para a prosperidade de uma sociedade activa? Hummm... também não. Para o aumento da produtividade e curva de crescimento do país? Nop. No fundo, temos filhos porque... queremos. Porque temos vontade. Porque ansiamos por um bebé no nosso colo. Porque queremos criar e educar um ser humano. Fazer igual ao que os nossos pais fizeram ou radicalmente diferente. Ou seja, temos filhos justamente para "satisfazer um desejo (ou capricho) pessoal". Ter filhos é sempre, em última instância, um acto egoísta (excepto, talvez, quando se adopta, em que para lá do desejo pessoal está também a vontade de se dar a alguém que não nasce de nós uma vida diferente da que o destino - Deus? - lhe deu).

Também acho curioso que para a leitora só seja sinistro que o Homem queira assumir o lugar do criador no caso de ser uma mãe solteira, um homem ou casais gays. Porque se for um casal heterossexual, então já não parece haver problema com a procriação medicamente assistida nem com a substituição de Deus nestas matérias. Estranho.

Uma vez mais, não é um ataque. É só um outro ponto de vista.

 

O segundo comentário que mexeu comigo foi este: "Fiquei sem pai aos 12 anos. Tenho 42. Todos os dias sinto a falta dele. O meu filho ficou órfão de pai aos 6 anos. Hoje tem 12 anos e todos os dias sente necessidade de falar sobre o pai. Não concordo com isto e não o digo com maldade mas acho de um egoísmo atroz trazer uma criança ao Mundo que nunca vai ter pai."

 

Ter um pai e deixar de o ter provoca uma dor, uma sensação de perda. Por vezes, o pai nem era grande coisa (não estou a dizer que é o caso, atenção), mas a criança, ao perdê-lo, cria uma imagem de pai perfeito que, por desventura, perdeu. Se o pai, por sorte, era efectivamente um pai presente, envolvido na educação e capaz de esbanjar amor, então a dor é ainda maior. E ficará sempre um vazio na pessoa que o perdeu. Pelo que percebi do comentário, esta é a sua experiência, tem o seu valor, a sua importância, a sua marca indelével. Mas, na verdade, não tem nada - nadinha - a ver com aquilo de que falávamos no post anterior. 

Porque outra coisa, totalmente distinta, é nascer e continuar a existir sem um pai. É uma condição de princípio. Com a qual se vive, sem qualquer sentimento de perda, porque não se pode perder o que nunca se teve. Ter uma mãe com amor de sobra para dar (e quem diz uma mãe, diz um pai) é o bastante para uma vida equilibrada e feliz. Até porque nós nunca crescemos sozinhos com as pessoas com quem vivemos. Há - felizmente - muito mais gente no crescimento de uma criança: avós, tios e tias, irmãos, primos, professores, colegas, vizinhos, amigos. A teia é grande, pode ser enorme. Desde que haja amor... chega. E acreditem no que vos digo, por muito do que tenho visto: por vezes é melhor não ter do que ter uma bela merda.

 

 

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