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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Pesadelo

Eu tinha um cancro terminal. A médica que me recebeu disse que eu não tinha hipótese nenhuma e que, por isso, íamos marcar a eutanásia para sexta-feira. Eu concordei com tudo porque sempre quis acabar bem e não em sofrimento desumano. Queria que os meus filhos se lembrassem de mim sorridente e brincalhona e não numa cama a definhar devagarinho. Os dias foram passando e eu fui tentando despedir-me da vida. Da minha mãe. Do meu pai. Dos meus sogros. O meu marido estava a encarar tudo com muita leveza, o que me perturbava um bocado. Eu ia morrer e todo o mundo continuava a girar como se nada fosse. Quando chegou a véspera do dia da minha morte, entrei em pânico. Imaginei-me a levar a injecção letal enquanto olhava os meus três filhos. Imaginei-me a fechar os olhos devagarinho e a lutar com todas as minhas forças para não os fechar. Eu não queria deixar de ver os meus filhos, quietinhos e aterrorizados a verem a mãe a apagar-se. Não! E então fui ter com a médica e disse-lhe: "eu quero lutar." E ela sorriu um sorriso triste e sentenciou: "não vale a pena. Vai perder." E eu em lágrimas, pela primeira vez em lágrimas, a gritar: "não importa! Às vezes dizem às pessoas que não têm hipótese e afinal as pessoas têm porque lutam, porque querem, porque querem muito! E eu quero muito. Tenho três filhos, tenho uma vida feliz, sinto-me bem, sou incapaz de morrer agora." Lembro-me de respirar fundo e pensar que ia ser uma luta feroz, desigual, que o mais certo era perder, mas que não podia simplesmente desistir.
E depois acordei.
E estou aqui com um aperto que nem vos passa pela cabeça.

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