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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Saudades

Eu tinha saudades dela. Não sabia que tinha porque, sempre que alguém me desaparece, seja por que razão for, acciono um plano de emergência interno que implica desligar toda a parte emocional e ficar fria como um bloco de gelo. Pode até ser um bloco falso. Por dentro (lá muuuuuuito no fundo) até posso estar ferida e triste, mas a verdade é que vivo sem o sentir. Costumo dizer que é como se puxasse o manípulo de um disjuntor fabril enorme e tudo cá dentro se desligasse. Puff. Apagou.
Mas agora que ela voltou à minha vida percebo que sentia a sua falta. Fico tão contente quando vejo que me enviou uma mensagem, quando falamos, quando estamos juntas, quase como se nada tivesse acontecido.
A minha madrasta foi uma pessoa muito importante no meu crescimento. Muito importante mesmo. Não me esqueço - nunca me esqueci - que era ela que me aturava em muitos fins-de-semana que ia para o meu pai. Não me esqueço da paciência que tinha para as conversas dos namorados, das amigas, disto e daquilo. Ela era mais nova, quase uma "igual" e, não sendo minha mãe, não tinha aquele julgamento moral que as mães têm para com os filhos. Ela compreendia-me e aconselhava-me, sem dar sermões. Era fixe. Tínhamos uma cumplicidade. Gostava de me deitar na cama dela, sempre que estávamos as duas sozinhas à noite. De folhearmos juntas a Máxima ou a Elle e imaginarmos que comprávamos mooooontes de modelitos, que assinalávamos metodicamente com círculos encarnados. As agendas dela, todas escritas, rabiscadas, com papéis lá dentro, setas, frases, poemas, bilhetes, contas... as agendas dela exerciam um fascínio em mim. Tão grande que hoje as minhas agendas são um bocadinho assim.
Quando a minha irmã nasceu, nunca me senti posta de lado, nunca. A minha madrasta fazia-me sentir útil, importante, pedia-me ajuda para cuidar dela, soube fazer as coisas. E sempre que íamos a qualquer lado, ela dizia: "A minha mais nova e a minha mais velha". E eu, não sendo filha dela (e tendo a minha mãe bem segura no seu lugar, na minha vida), sentia-me feliz com aquela inclusão. Não era "a minha filha e a minha enteada", como na expressão "uns são filhos, os outros são enteados". Não. Nunca foi assim. E eu agradeço-lhe muito essa generosidade, esse amor.
Eu tinha saudades dela. Não sabia que tinha (ou sabia, lá no fundo de mim). Mas agora sei, bem à superfície da pele e também cá no fundo. Ainda bem que, agora que sei, já a tenho por cá outra vez.

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