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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Sem título

Ontem apertei os meus três filhos com força. Abracei-os como se os quisesse engolir ou talvez devolver ao mais fundo de mim, para que pudessem estar protegidos do mal, de tantos males que por aí espreitam e que, de um momento para o outro, mos podem levar para sempre. Ontem ficámos juntos num longo abraço e chorei e não escondi a verdade. O Martim e a Madalena estiveram no evento «Todos Por Um» (o Manel não estava em Lisboa) e ficaram tristes por saber que o Rodrigo, por quem continuavam a perguntar, partiu. O Manel engoliu em seco e mergulhou num silêncio só dele. Ontem o meu coração elástico, que já esticou três vezes, encolheu e ficou minúsculo. Praticamente invisível. Ontem, eu, a Pólo Norte, a Sofia Castro Fernandes, a Selma Veiros, a Sandra Alves e a Erica Rodrigues, seis das sete que organizaram o evento Todos Por Um, em Lisboa (a Filipa Cortez Faria não pôde), metemo-nos em dois carros e fomos para a Azueira (Livramento) para dar um abraço à família e para nos despedirmos do Rodrigo. Vê-lo ali imóvel, naquela caixa, com um peluche encostado ao peito, foi uma imagem dilacerante. Impossível. As crianças não podem estar assim, tão quietas, tão finitas, tão imóveis para sempre. Não podem. Não podem.
Ficámos todas em lágrimas, reunidas em círculo, sem palavras. E acabámos num café de Mafra, a conversar sobre tudo e sobre nada, até já passar um bom bocado da uma da manhã.
Hoje, o Martim perguntou-me pelo Rodrigo. Se eu tinha chorado. Se ele estava num caixão. E eu a ver nos seus olhos aquela incompreensão que também mora nos meus. E o medo, claro. Como não sentir medo quando se percebe que morrer ou não morrer mais não é, afinal, do que um jogo de sorte ou azar?
Ontem apertei os meus três filhos com força. Abracei-os como se os quisesse engolir ou talvez devolver ao mais fundo de mim, para que pudessem estar protegidos do mal. Ontem o meu coração ficou minúsculo, praticamente invisível. Nem consigo imaginar como estará o coração da mãe do Rodrigo.

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